Difícil falar só de tênis quando tratamos de Roger Federer e Rafael Nadal, dois caras que extrapolam, ultrapassam os limites humanos e, assim como escrevi na última semana, são exemplos puros e genuínos da maior e melhor rivalidade do esporte.
Federer só é Federer por causa de Nadal. Nadal só é Nadal por causa de Federer. E o tênis só é o tênis por causa deles.
A final do Australian Open foi mais um lindo capítulo de tudo isso.
Emocionante em todos os sentidos.
No enredo, no jogo brigado, na cumplicidade entre dois fenômenos que cansaram de ganhar, mas que ultimamente têm tido a difícil missão de jogar, também, contra dois adversários duros (e não me refiro a Djokovic e Murray): o corpo e o tempo.
Voltaram à Melbourne contestados e encantaram o mundo com uma final épica de cinco sets vencida pelo suíço, mas merecida, também, ao espanhol, que lutou até a última bola.
“Acho que nós dois não imaginávamos há quatro, cinco meses, que estaríamos em uma final de Grand Slam. Estou feliz por você também. O tênis é um esporte difícil, feito por duelos. Se eu pudesse dividiria o meu troféu com o Rafa.”
disse Roger após conquistar o seu 18º título de Major da carreira, o quinto na Austrália.
Postura de gênio!
Falar que o suíço é o maior de todos os tempos da história do tênis é cair na mesmice e até no óbvio diante de tudo o que Federer já fez.
O Leão da Montanha, pelo que representa, transcende a modalidade que pratica e merece ser situado como o maior atleta de todos os tempos do esporte no geral.
Ou um dos. Ao lado de um grande amigo meu, me aventurei na tarefa de esboçar o top 5 do mundo esportivo.
Sem ordem de preferência, estariam na minha lista: Roger Federer, Pelé, Michael Jordan, Usain Bolt e Michael Phelps, deixando de stand by (que luxo!) Muhammad Ali, Ayrton Senna, Jesse Owens e Tiger Woods.
A discussão será sempre polêmica.
O importante é agradecer. É uma benção e um privilégio poder ver Roger Federer.
Aos 35 anos, diante de seu maior algoz, o suíço deu mais uma prova de que não se pode duvidar de caras como ele. Até mesmo o seu backhand — historicamente castigado por Nadal nos confrontos épicos entre eles — foi um espetáculo na Austrália, decisivo.
Uma aula de tênis, de agressividade, de coragem. Um show na quadra rápida (bem rápida!) de Melbourne. A consagração do ‘veterano’ Federer tinha que ser exatamente como foi, tendo como adversário o fenômeno espanhol que o obrigou a se reinventar ao longo dos anos.
Obrigado aos dois!
A maior de todas!
Muitas das palavras acima também cabem para Serena Williams, cada vez mais consolidada na lista das maiores atletas da história do esporte feminino — na minha opinião é também a maior da história do tênis.
Não teve preço acompanhar mais uma final entre Serena e sua irmã mais velha, Venus — quanta alegria da veterana de 36 anos!
A rivalidade entre as duas, a exemplo de Roger e Rafa, é admirável, reforçada ainda pelo laço sanguíneo.
“Nessa altura de nossas vidas, jogarmos uma contra a outra é muito mais divertido. Estamos com mais de 30. Não importava hoje ganhar ou perder, porque mesmo perdendo eu sei por tudo o que ela já passou, o quanto ela se preparou duro para este torneio. Era uma situação em que eu sairia vencendo de um jeito ou de outro…”
disse Serena após a vitória por dois sets a zero sobre Venus.
O 23º título de Grand Slam da carreira faz a norte-americana ultrapassar Steffi Graf e assumir a liderança da lista de Major entre as jogadoras da Era Profissional.
No geral, ela fica atrás apenas de Margaret Court (por pouco tempo). O posto de número 1 do mundo também volta para os braços de Serena.
Estendo meu agradecimento e minhas reverências, também, às irmãs Williams.
O Australian Open ‘retrô’ 2017, sem dúvida alguma, foi o melhor Grand Slam dos últimos anos.