‘La Décima’ conquista de Rafael Nadal em Roland Garros representa muito ao esporte, mas é, acima de tudo, mais uma lição de vida dada pelo espanhol.
A grandeza do feito do Touro Miúra não se discute. O que dizer do primeiro homem do tênis a conquistar dez canecos de um mesmo Grand Slam?
Do cara que chegou a 15 títulos de Majors na carreira, ultrapassando Pete Sampras e ficando atrás apenas de Roger Federer — 18 vezes campeão?
Do tenista que, no saibro, tem números incompatíveis ao de qualquer outro adversário?
Daquele que venceu dez das treze finais disputadas em Paris?
A soberania é indiscutível: Nadal é o maior de todos os tempos em uma mesma superfície.
Em 2017, ele termina a temporada na terra batida com 23 vitórias e uma derrota, títulos nos Masters de Monte Carlo e Madri, caneco do ATP 500 de Barcelona e conquista invicta — sem perder sets — em Roland Garros, com direito a atropelamento sobre o suíço Stan Wawrinka na final.
Além dos números, o que mais impressiona é o lado humano do espanhol, que pela terceira vez se reergue na carreira. A persistência fora das quadras é proporcional ao esforço gasto na hora de correr atrás de cada bolinha, em cada ponto, em cada jogo.
Foi assim que Nadal se reencontrou: vivendo um dia de cada vez. A determinação na recuperação física e a retomada de confiança são dignas de quem nunca desiste.
Até mesmo quando não encontrava soluções e não sabia explicar o mau momento, o Touro Miúra insistiu, buscou novos caminhos, acreditou. Achou saídas e reinventou o jogo tão marcado pela intensidade.
Alongou a pré-temporada, aprimorou o físico, conseguiu trazer de volta a profundidade que tanto incomoda os rivais. Iniciou bem o ano, chegou em boa parte das finais na quadra dura, mas não poderia desencantar em outro piso que não o saibro…
Assim como fez em 2010 e 2013, Rafa se reergue no tênis e dá mais um exemplo de superação.
Se alguém, por algum momento, achou que o espanhol havia acabado, não acha mais.
O atual número 2 do mundo, número 1 da temporada e já classificado ao ATP Finals de Londres, caminha novamente para o topo.
Com Andy Murray instável e cheio de pontos a defender no 2º semestre e Novak Djokovic ainda em busca do melhor jogo, a liderança do ranking é mais do que viável para Nadal.
O curioso é que o principal oponente do Touro para o restante da temporada tende a ser justamente o seu bom e velho rival, Roger Federer, que retoma as atividades na temporada da grama. O mundo do tênis dá voltas…
Quem também dá voltas (muitas!) é o circuito feminino. Sem Serena Williams, grávida, tudo pode acontecer.
Roland Garros foi prova disso, com o título improvável da jovem letã Jelena Ostapenko, de apenas 21 anos, que levou o primeiro troféu da carreira justamente no Grand Slam parisiense — em um piso no qual acumulava seus piores resultados até então. Vai entender…
Chegou a Paris, ganhou confiança e decolou até vencer a romena Simona Halep na decisão. Reflexo da imprevisibilidade do feminino.
Se isso é bom ou ruim? Acho interessante…
Emocionante ver uma tenista jovem e tão talentosa aparecer dessa forma.
Vinte anos depois do primeiro título de Gustavo Kuerten na França, em 1997, Ostapenko surpreende o mundo, ao melhor estilo Guga.
Brasileiros
Apesar das eliminações na chave de simples, é preciso exaltar o desempenho dos brasileiros em Roland Garros.
Thiago Monteiro, Thomaz Bellucci e Rogério Dutra Silva superaram a estreia e quebraram um longo tabu: desde 2003 o Brasil não tinha três representantes na segunda rodada de um Grand Slam — a última vez havia sido em Wimbledon daquele ano, com Gustavo Kuerten, Flávio Saretta e André Sá.
Sim, concordo que comemorar o feito de chegar a uma segunda fase parece pouco, mas é preciso aceitar e entender que essa é a nossa realidade.
Se há exatos 20 anos, Guga brilhava em Paris com a sua primeira conquista em Roland Garros, em 2017 as eliminações de Rogerinho, Bellucci e Thiago contra Milos Raonic, Lucas Pouille e Gael Monfils, respectivamente, são mais do que normais. Infelizmente.
Entre as mulheres, Bia Haddad Maia caiu na estreia para a russa Elena Vesnina, mas também merece ser exaltada. Com apenas 21 anos, a paulista fez um jogo duríssimo contra uma tenista top 15 — isso tudo depois de furar o quali para entrar na chave principal.
Ainda jovem, Bia vai se acostumando com o circuito, jogando grandes torneios e enfrentando, em alto nível, grandes adversárias. Em breve deve colher os frutos.
Mais uma vez, o destaque brasileiro veio das duplas, dessa vez por Rogério Dutra Silva. A queda nas quartas de final ao lado do italiano Paolo Lorenzi é mais um exemplo de quem trabalha duro e se vira cada vez melhor no circuito.